Apesar do avanço significativo no tratamento do câncer, o principal desafio atual segue sendo o diagnóstico precoce. A avaliação é do oncologista Felipe Ades, médico com ampla atuação em pesquisa clínica e políticas públicas, que concedeu entrevista à revista Veja.
“Hoje, o grande gargalo da oncologia não é mais o tratamento, e sim o rastreamento. Essa é a nossa maior limitação. O diagnóstico precoce tem um potencial de cura muito grande, mas poucos pacientes são diagnosticados nessa fase”, afirmou o especialista.
De acordo com Ades, o rastreamento é uma ferramenta fundamental para reduzir a mortalidade por câncer, mas ainda é negligenciado, especialmente no sistema público de saúde brasileiro. A ausência de programas estruturados para exames como mamografia, colonoscopia e testes de HPV compromete a identificação precoce da doença e aumenta os custos com tratamentos em estágios mais avançados.
O especialista também apontou que a desigualdade no acesso à saúde impacta diretamente nos desfechos oncológicos no país. “Precisamos tornar o caminho do paciente mais rápido e com menos barreiras. Muitas vezes, o indivíduo até tem o sintoma, mas não consegue acesso ao exame que comprova o diagnóstico”, declarou.
Além disso, Ades destacou que o rastreamento bem feito pode reduzir a mortalidade de alguns tipos de câncer em até 30%, ao mesmo tempo em que diminui os custos dos sistemas de saúde. Ele defende a ampliação de políticas públicas voltadas à prevenção e detecção precoce da doença, com programas organizados e contínuos, sobretudo nas redes públicas.
Para ele, o futuro do combate ao câncer passa pela combinação entre avanço tecnológico e investimento em estratégias de saúde pública: “Se conseguirmos aplicar o que já sabemos na prática, vamos conseguir salvar mais vidas”.
Fonte: Veja